terça-feira, 11 de agosto de 2015

Oncofertilidade: Como ter filhos após o câncer

Construir uma família com filhos é algo desejado por muitas pessoas e estar fisicamente preparado para esse momento é fundamental. Diante de um tratamento oncológico (quimioterapia ou radioterapia), a preservação da fertilidade do paciente é algo muito importante a ser discutido e planejado com o médico.
 O diagnóstico da doença geralmente deflagra no paciente e, muitas vezes, também no seu (sua) parceiro (a), um quadro depressivo que compromete o raciocínio sequencial de cura, qualidade de vida após o tratamento e, consequentemente, a condição de poder gerar filhos. Um especialista em reprodução assistida poderá ajudar a entender como sua fertilidade pode ser afetada pós-tratamento e, com isso, planejar seu futuro reprodutivo.
   Preferencialmente, a preservação da fertilidade deve ser realizada antes do início do tratamento oncológico, levando em consideração a idade do paciente, o diagnóstico de câncer existente e a programação prevista.  O uso de quimioterápicos e/ou radioterápicos, independente da dose ou radiação utilizada, agride as células germinativas, responsáveis pela fertilidade, que estão nas gônadas (ovários e testículos).
   No caso de pacientes que já foram submetidos aos tratamentos oncológicos ou se encontram em vigência dos mesmos e que desejam ter filhos, recomenda-se uma avaliação com o especialista em Oncofertilidade, para que as melhores orientações e alternativas de tratamentos sejam reveladas.
   Entre as técnicas para a preservação da fertilidade estão: criopreservação de sêmen, embriões, óvulos, tecidos ovariano ou testicular, supressão da função ovariana e transposição ovariana. A escolha do método adequado deve ser feita em tempo hábil e sem prejudicar a saúde do paciente, pelo “expert”.
   Após o tratamento oncológico, a fertilidade é comprometida em 90% dos casos, podendo ser permanente ou temporária, a depender das doses e tipos de quimioterápicos, dos gramas de radioterapia utilizada, do tipo de câncer, dos órgãos comprometidos e, ainda, da resposta de cada indivíduo. Cuidar da fertilidade não é prejudicar ou adiar o tratamento oncológico, mas permitir que, após a cura, a possibilidade de ser mãe ou pai seja viável.

Oncofertilidade feminina

   As mulheres nascem com o número total de óvulos pré-determinados em seus ovários e, após a primeira menstruação, mensalmente, inúmeros folículos presentes no ovário são recrutados para determinar o folículo dominante que crescerá até atingir a maturidade e, então, ovular, enquanto os outros entram em atresia e degeneram. Esse ciclo naturalmente ocorre até que a mulher entre na menopausa e, então, esgote o número de folículos existentes. Os tratamentos quimioterápicos e radioterápicos “provocam” uma menopausa precoce, acelerando a atresia folicular e atingindo os folículos primordiais, causando infertilidade  nas pacientes tratadas , que poderá ser definitiva.
   Em média, a mulher leva entre 10 a 15 dias para preservar sua fertilidade, ao obter óvulos ou embriões, que serão criopreservados, através da técnica de criopreservação de óvulos ou embriões. O congelamento de embriões é uma técnica consagrada e muito utilizada para tentativas futuras de gestação. Além disso, há opção do congelamento de óvulos pela técnica de vitrificação.

Oncofertilidade masculina

 Nos homens, a produção de  espermatozoides é quase que renovada a cada três meses, devido à manutenção e diferenciação que ocorre nas células testiculares, presentes durante quase toda a vida do indivíduo, processo conhecido como espermatogênese. Porém, os tratamentos quimioterápicos e radioterápicos promovem a morte das células testiculares responsáveis pela espermatogênese, gerando infertilidade, também definitiva.
   Para a maioria dos homens, o tratamento é bem mais simples e, em até cinco dias, podem ser recolhidas e armazenadas duas ou três amostras de sêmen, que permitem uma excelente reserva reprodutiva. Em adultos o mais indicado é o congelamento de sêmen antes do começo da quimioterapia. Já nas crianças, como não há produção de sêmen, a única alternativa é a criopreservação de tecido testicular.

Dúvidas Frequentes

Fertilidade Masculina

1. Como e quando o paciente poderá saber se é fértil ou não após o término do tratamento?
Por volta de seis meses após o término do tratamento, o homem deve colher um espermograma que apresentará as informações necessárias relativas à concentração, motilidade e morfologia dos espermatozoides, informando sobre seu potencial fértil.

2. Se a fertilidade não for preservada, existem alternativas para que ele possa ter filhos futuramente?
Atualmente, existem alternativas medicamentosas que podem ajudar em um aprimoramento espermático, porém os resultados em homens afetados por quimioterapia e/ou radioterapia não são muito satisfatórios. Quando comprovada a morte das células germinativas, a alternativa existente é recorrer aos bancos de sêmen.

3. Se for realizado o congelamento do sêmen ou tecido testicular, existe uma data limite para serem utilizados?
Não, tanto o sêmen quanto o tecido testicular não apresentam tempo limite de congelamento, podendo ficar congelados por muitos anos, sem prejuízo.

Fertilidade Feminina

1. Mulheres com câncer de mama podem utilizar hormônios para induzir ovulação e congelar óvulos antes da quimioterapia?
Para mulheres com neoplasias que podem crescer com hormônios, são realizados alguns cuidados durante o estímulo, como o uso de medicação que baixa os níveis de estrogênio. Estas mulheres podem congelar seus óvulos sem repercussão para a doença.

2. Como e quando a paciente poderá saber se é fértil ou não após o término do tratamento? Existem testes para isso?
No caso das mulheres, o retrato da função ovariana é dado pela avaliação de testes de marcadores hormonais, como dosagem sanguínea do hormônio folículo estimulante (FSH), estradiol e hormônio Anti-Mulleriano (AMH), além de testes ultrassonográficos, como a mensuração do volume ovariano e a contagem de folículos antrais (AFC). O retorno das menstruações é visto como um bom sinal, mas não garante retorno da fertilidade.

3. Se a fertilidade não for preservada, quais são as alternativas para que a mulher possa ter filhos?
Caso a fertilidade não tenha sido preservada e a mulher tenha entrado em um quadro de insuficiência ovariana pela quimioterapia, pode-se tentar induzir a ovulação e, caso não haja boa resposta, recorrer ao programa de doação de óvulos.

4. Se houver falência ovariana (menopausa pelo tratamento), quais serão os sintomas? Existe tratamento para isso?
Os sintomas da menopausa incluem a ausência de menstruação, irritabilidade, insônia, secura vaginal, diminuição da libido e ondas de calor. O tratamento para quem deseja engravidar, nestes casos, é receber um óvulo doado.

Etapas do Programa

• Consulta com médico de reprodução humana especialista em oncologia, que determina a melhor tática de preservação da fertilidade para cada caso, após contato com oncologista clínico que trata a paciente;
• Realização de exames e indicação do protocolo a ser realizado;
• Coleta de óvulos, sêmen, retirada do tecido ovariano, entre outros;
• Retorno ao oncologista para início do tratamento oncológico.

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